30 novembro, 2009

hoje é segunda, mas também é o primeiro





Perry, S.
future / past
(2005)
[fotografia]










O Primeiro Dia
A principio é simples, anda-se sózinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.



Sérgio Godinho, O primeiro dia

28 novembro, 2009

sábado de manhã (84)






Shahriar T.
family series (Mother)
(fotografia)

26 novembro, 2009

estados particulares

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Goldberg, J.
dawn
(2008)





this is the way
I feel myself today



F. Mendelssohn, song without words - Op.109 , violoncelo: Jacqueline du Pré, piano:Iris du Pré
(e desculpem-lhes as palmas antes de tempo)

22 novembro, 2009

abandonem-se a estes minutos tão bonitos ...

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Kolar, J.
le temps fait ses adieux
(1984)









PORQUE NÃO ME VÊS

Meu amor adeus
Tem cuidado
Se a dor é um espinho
Que espeta sozinho
Do outro lado
Meu bem desvairado
Tão aflito
Se a dor é um dó
Que desfaz o nó
E desata um grito
Um mau olhado
Um mal pecado
E a saudade é uma espera
É uma aflição
Se é Primavera
É um fim de Outono
Um tempo morno
É quase Verão
Em pleno Inverno
É um abandono
Porque não me vês
Maresia
Se a dor é um ciúme
Que espalha um perfume
Que me agonia
Vem me ver amor
De mansinho
Se a dor é um mar
Louco a transbordar
Noutro caminho
Quase a espraiar
Quase a afundar
E a saudade é uma espera
É uma aflição
Se é Primavera
É um fim de Outono
Um tempo morno
É quase Verão
Em pleno Inverno
É um abandono


Fausto, porque não me vês

Boa semana para quem chegar aqui :))

21 novembro, 2009

desafio (mais um)


Recebi um desafio do Lino, do blog the soundsofsilence, que consiste em completar as cinco frases seguintes:

Eu já tive...
Eu nunca...
Eu sei...
Eu quero...
Eu sonho...



Eu já tive uma genica (ânimo, energia, força, vigor) que nunca mais parava.
Eu nunca fiz mal a ninguém, de forma deliberada.
Eu sei, hoje, que não é suficiente fazermos as coisas bem.
Eu quero manter-me atenta mas ter dias calmos.
Eu sonho muito menos do que sonhava ainda não há muito tempo.

E a "batata quente" vai para:
- Leonor - A curva na estrada
- Tia_Cunhada - coisas da tia Zen
- Clarice - Clarear

sábado de manhã (83)





Lemmen, G.
sleep
(1900)

16 novembro, 2009

cantem comigo

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Estrada-Vega, C.
lino
(2006)










CANÇÃO DE MADRUGAR

De linho te vesti
De nardos te enfeitei
Amor que nunca vi
Mas sei.
Sei dos teus olhos acesos na noite
Sinais de bem despertar
Sei dos teus braços abertos a todos
Que morrem devagar
Sei meu amor inventado que um dia
Teu corpo pode acender
Uma fogueira de sol e de fúria
Que nos verá nascer.
Irei beber em ti
O vinho que pisei
O fel do que sofri
E dei.
Dei do meu corpo um chicote de força
Rasei meus olhos com água
Dei do meu sangue uma espada de raiva
E uma lança de mágoa
Dei do meu sonho uma corda de insónias
Cravei meus braços com setas
Descobri rosas alarguei cidades
E construí poetas
E nunca te encontrei
Na estrada do que fiz
Amor que não logrei
Mas quis.
Sei meu amor inventado que um dia
Teu corpo pode acender
Uma fogueira de sol e de fúria
Que nos verá nascer.
Então:
Nem choros, nem medos, nem uivos, nem gritos,
Nem pedras, nem facas,
Nem fomes, nem secas, nem farsas,
Nem forcas, nem farpas, nem feras
Nem ferros, nem cardos, nem dardos.
Nem trevas, nem gritos, nem pedras, nem facas,
Nem fomes, nem secas, nem farsas,
Nem forcas, nem farpas, nem feras,
Nem ferros, nem cardos, nem dardos,
Nem mal.

Poema: José Carlos Ary dos Santos
Música: Nuno Nazareth Fernandes


Susana Félix, canção de madrugar - Rua da Saudade, homenagem no 25º aniversário da morte de Ary dos Santos.

14 novembro, 2009

sábado de manhã (82)

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Eckersberg, C.W.
sleeping woman in antique dress
(1813)

12 novembro, 2009

ou há moralidade ou não nasce nenhum



Agora fico à espera que a medida se estenda aos outros, vieiras e não só...

:))


(clicar na imagem para aumentar)

09 novembro, 2009

apeteceu-me e ...






Matta, R.
growth
(1955)




A possibilidade de sermos humanos só se realiza através dos outros, dos semelhantes... A plasticidade de que somos dotados e que nos permite aprender, implica uma rede de relações com outros seres humanos. [Somos, antes de tudo, macacos de imitação e é através da imitação que conseguimos ser algo mais do que macacos...] Sim, nós nascemos (quase) humanos, mas isso não é suficiente. Temos de conseguir sê-lo. Como disse algures Graham Green, ser humano é, também, um dever. Todos os dias, acrescento eu.

:))

07 novembro, 2009

sábado de manhã (81)

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Picasso, P.
head of a sleeping woman
(study for nude with drapery)

(1907)

04 novembro, 2009

caixa de luz ucraniana

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Kseniya Simonova é uma artista que acaba de ganhar a versão ucraniana similar ao "America's Got Talent". Usa uma enorme caixa de luz, areia, música, muita imaginação, talento e sensibilidade para interpretar a invasão alemã e a ocupação da Ucrânia, durante a 2ª grande Guerra. Fiquei presa e emocionei-me a ver a sua performance. Imaginei que também gostariam de ver.
:)))

02 novembro, 2009

saudades confessadas





Ziegler, T.
arrows of longing
(2005)


Admito, sem reservas, que tenho saudades. A vossa companhia é um afago descomprometido que me aconchega, que me faz bem. Tal como admiti aqui, mal tenha tempo, eu sei que volto. Por tudo o que me dão. :)))

Cesária Évora, sôdade